25 outubro, 2009

Visita a Silhades

No dia 13 de Outubro desloquei-me a Torre de Moncorvo. Entre outras coisas, levava em mente ir conhecer Silhades, povoado junto ao rio Sabor, pertencente à freguesia do Felgar.
Já algum tempo tinha lançado no Fórum do Felgar o desafio para uma caminhada a Silhades, mas, as datas preferidas apontavam para o Verão, em Agosto, que foi impossível para mim. A ideia da caminhada não está afastada, mas decidi ir de automóvel, o tempo que dispunha era limitado.
Tive uma sorte incrível! A manhã estava gelada, mas com uma luminosidade invulgar. Logo no Carvalhal comecei a fazer algumas fotografias e a entusiasmar-me. Quando cheguei ao Felgar o céu pintou-se ainda mais de azul e as ruas e varandas tinham muita beleza. Foi com algum esforço que segui pela estreita estrada que desce em direcção a Silhades.
Pelo caminho encontrei a capela do Espírito Santo, umas alminhas, árvores, rochas e outras curiosidades que me chamaram à atenção e fizeram com que chegasse ao rio Sabor só às 11 horas.
Desconhecia completamente o local, apesar de ter visto algumas fotografias. Atravessei o rio num pontão, mas deixei o carro junto deste. O caminho até ao povoado é bastante bom (e fotogénico) segue por entre canaviais, que se dobram formando arcos.
Segui a pé algumas centenas de metros. A excitação era grande e também o silêncio. O rio levava pouca água, corria silenciosamente. Só ao longe, nas montanhas mais abaixo, se adivinhavam grandes monstros devoradores de rochas, esventrando as montanhas, abrindo acessos para a futura barragem.
Quando cheguei às primeiras casas do povoado senti uma forte emoção. O local estava cuidado, fruto talvez da festa realizada em Agosto passado, em honra de S. Lourenço. A barraca de venda de bebidas ainda lá estava, com uma placa que dizia “há peixes do rio a 2,5€ a dose”!
Em Silhades há dois núcleos de casas e mais algumas ruínas dispersas. No centro do núcleo principal encontra-se a pequena capela de S. Lourenço que se destaca ao longe, quer pela sua posição, quer pelo facto de estar caiada de branco. Nas traseiras da capela há uma oliveira plantada num pedestal revestido por xisto. Parece um monumento à oliveira. Já encontrei oliveiras semelhantes em pleno coração do vale da Vilariça, num local conhecido por Godeiros, onde em tempos existiu um importante povoado e que agora vai ficar submerso pela construção de outra albufeira. Em Silhades, pelo facto de estar situada no centro do povoado, tem outro simbolismo. É emocionante pensar quantas conversas terão sido feitasna sua sombra, a quantos segredos assistiu nas noites frias, no tempo da azeitona, quando os trabalhadores por aí dormiam... a quantos nascimentos e quantas mortes terá assistido?
Posicionando-me à frente da capela, voltei-me para o Felgar. A situação de Silhades é privilegiada: tem uma exposição ao sol que faz inveja; está protegido dos ventos do Norte pelas montanhas; tem a poucas dezenas de metros o rio Sabor; há bons terrenos agrícolas para montante e para jusante, em ambas as margens do Sabor; há uma fonte, com um tanque recentemente recuperada; havia uma ribeira que passava entre os dois núcleos de casas, em tempos mais chuvosos. O olival e o amendoal abundam por todo o lado.
Para ajudar na minha divagação, o céu cobriu-se de azul mais escuro, salpicado por nuvens muito brancas, que ora pousavam sobre o Felgar, ora se deslocavam para o cume das montanhas onde deve estar o Larinho.
Andei por entre as ruínas das casas, nalgumas há ainda sinais evidentes da presença do homem. Algumas serviram, e possivelmente ainda servem, para guardar animais. Noutras é possível encontrar colchões esburacados, botas velhas, pilhas eléctricas, garrafas de vidro, bancos, etc. Há duas ou três ainda fechadas.
No extremo oposto ao ponto por onde cheguei, mais elevado, havia muitas colmeias cheias de abelhas, que me mantiveram à distância. Um pouco mais abaixo encontrava-se a fonte, ainda com alguma água a correr.
Perdi a noção do tempo, e, quando olhei para o relógio, já passava do meio-dia. Percorri em passo largo o espaço que me separava do automóvel e empreendi o regresso a Torre de Moncorvo. Da margem oposta do Sabor lancei um último olhar a Silhades, não de despedida, foi mais um “até breve”.

Nota: Agradeço a um visitante do Blogue que me chamou à atenção para o nome Silhades ou Cilhades. Tentei clarificar (on line) visitando alguns sítios web institucionais, onde o nome devia estar correctamente escrito. Verifiquei que existem as duas grafias. Decidi manter Silhades com S.

7 comentários:

António Sá Gué disse...

Bonito passeio. Fiquei com vontade de o fazer em bicicleta.

Anónimo disse...

Obrigado pelo excelente naco de fotos sobre Silhades - sempre com S, nem que seja por força dos ditames dos forais de Mós, 1162, e Vila Flor, 1296 -.
Brevemente tudo isto será finito...
Restar-nos-á a memória e a mim pessoalmente sempre me fará recordar as noites por lá dormidas e os excelentes serões ali passados.
Se Silhades sempre vem mencionado no 1º mapa terrestre de Portugal, de Alvares Seco de 1530,devido à sua importância estratégica e à sua barca, igualmente faz bem ir vendo estas deliciosas fotos.
Aproveitem... a contagem final já começou...
Mt. obrigado

Reburrus

Anónimo disse...

Belas imagens desta maravilhosa paisagem em volta de Silhades, mas é pena que em breve tudo será inundado e as amendoeiras e oliveiras não sabem nadar.
Ac

Wanda Wenceslau disse...

Olá!
Gostei das fotos e do texto sobre o roteiro.Não há quem não fique com vontade de ir conferir.Pena que um dia só será saudades!

Abraço

Wanda
São Paulo-Brasil

Anónimo disse...

Com esse ou com cê é tema para puristas,para mim fica a vontade de ir acompanhado e - é o Expresso que o diz-, namorar para o Felgar (Silhades)
Patarino

adriano neto disse...

obrigado pela boleia espetacular

José Carlos Ferreira disse...

Sou filho de um natural de Silhades, meu Pai, Francisco António Ferreira, "e ainda, nascido em dia de S.Lourenço, 10 de Agosto".
Posso assegurar-vos que naquele "vale de silêncio", foi onde senti o chamamento telúrico da terra e onde eu e amigos de Lisboa nos quedámos num mutismo perfeito que nos lavou a alma.
Eu que passei parate da minha infância vagueando por entre as fragas,amendoeiras,figueiras,oliveiras e "cheiros " do Felgar,bate-me sempre a sauadade e se me aperta o coração quando a conversa "bota" para o Felgar e Silhades.
José Carlos Ferreira
Em Lisboa mas sempre com saudades da sua aldeia...Felgar.