
Não resisto a transcrever alguns parágrafos do livro "Contos dos Montes Ermos", que ando a ler:
"Nas levadas, as meruges e rabaças, ensopadas em água, como se matassem uma sede mirífica, dificultavam a defluxão, construindo pequenos, açudes, onde o passaredo se espojava.

Um casal de vaidosos pintassilgos vinha construir o ninho entre as frondes de uma rescendente malapeira, que os ganapos já haviam descoberto, pelo que o desvelo posto na vigilância do ninho fora tanto ou tão pouco que a pintassilgo acabara por enjeitá-lo. Os láparos desciam das lorgas que tinham lá no alto e vinham derriçar os talos carnudos das tronchas galegas que orlavam as hortas e haviam de ser ceia na noite de consoada. Os tourões fedorentos, pela calada da noite, esgadanhavam as abóboras porqueiras, acabando por estragar mais do que comiam. Os javalis, no tempo da castanha, desciam do moitedo e não havia ouriço que não fosse esventrado, quando embicavam pelas hortas, levando tudo a eito: a rodriga do feijão era tombada, o cebolo arrancado, os tomateiros pisados - parecia que o diabo se havia espojado ali."
Sem comentários:
Enviar um comentário