17 julho, 2012

Segada e malhada tradicionais em Adeganha (1ªParte)

Teve lugar no dia 14 de julho, em Adeganha, a realização de uma segada, seguida de malhada, tradicionais. Na verdade foi muito mais do que isto, dado que foi um dia inteiro de atividades, das quais vou dar o meu testemunho pessoal.
A notícia chegou-me via Facebook. Parece que não é só nas grandes cidades que se promovem eventos recorrendo às redes sociais, defeitos à parte, as tecnologias também têm as suas vantagens.
Cheguei a Adeganha a meio da manhã. Desde o IC5 que encontrei placas específicas sinalizadoras do local do evento. Isto demonstra a preocupação em facilitar a vida às pessoas.
No largo da Lameira a azáfama já era grande. As bancas de produtos locais estavam muito atrativas. Além de produtos da aldeia identifiquei bancas de Estevais e da Cardanha.
Havia uma exposição de alfaias ligadas ao cultivo do cereal e à feitura do pão. À entrada no recinto estava um carro de bois carregado de cereal, dando as boas-vindas a quem chegava.
Andando de um lado para o outro perdias atividades previstas para a manhã, que eram: yoga, oficina da lã e do linho, oficina do pão e dos bolos tradicionais.
 O sino da igreja chamou os crentes para o culto. Alguns com um traje já pouco habitual, outros com um traje domingueiro mais atual, era sábado, mas de festa, todos se juntaram na antiquíssima igreja de S. Tiago para a Eucaristia. Meso com a presença dos visitantes, a igreja não encheu. Durante a celebração foram houve duas ideias que o sr. Padre realçou e me chamaram à atenção. A primeira tem a ver com o título do movimento que realizou a festa - Aldeia Viva. Também a igreja incentiva à entrega, à partilha à participação, só assim se pode ser um bom católico. A segunda ideia está intimamente ligada com a Eucaristia e com a partilha de Deus sob a forma de pão. "Eu sou o pão vivo, descido dos céus", cantou o grupo coral.
 Após a Eucaristia aproveitei para apreciar a igreja. Não foi a primeira vez que a visitei, mas este monumento é merecedor de mais do que uma visita. A igreja é do séc. XIII sendo monumento nacional desde 1944. è um dos mais belos templos românicos de Portugal. Para além de outros elementos dignos de realce por especialistas, a mim agradam-me particularmente a figura das três mulheres no frontispício (que dão origem a uma curiosa historia, mas que possivelmente representam um parto) e o motivos representados na cachorrada, sobretudo zoomórficos com pássaros, touros, etc. No interior chamam à atenção dois altares laterais em talha dourada e os frescos nas paredes, bem ao estilo da Ermida de Nª Sª da Teixeira na freguesia da Açoreira.
Dirigi-me à pressa para o largo da Lameira. Estava à espera de uma cerimónia formal de bênção do pão, mas não chegou a acontecer!
À hora de almoço fiz uma passagem por todas as tasquinhas fazendo um "inventário" das possibilidades. A oferta era bastante variada, dentro dos tradições das segadas e malhadas. Havia rojões, carne estufada, milhos, feijão frade com atum, dobrada, caldeirada de borrego, migas de/e com bacalhau. A minha escolha recaiu sobre a tasquinha da Comissão de Festas de Nª Sª do Castelo. Acho que fiz uma boa escolha, e aponto apenas duas razões. Comi rodeado de gentes de Adeganha, a maior parte idosa, com quem conversei longamente . Neste grupo estavam, entre outros, o Sr. Moisés e o Sr. Francisco Barros, pessoas com a pele queimada de muitos sois e os dedos habituados aos dedais.
 Antigamente a época da segada era longa. Começava na Vilariça, mais quente, na Horta ou Junqueira e prolongava-se durante mais de um mês, em altitude, lá para o Planalto Mirandês, no Variz, Urrós ou mesmo Duas Igrejas. Terminados os dias de trabalho, alguns regressavam de comboio, pela antiga Linha do Sabor, outros voltam a pé, com o burrico pela rédea e menos de 1000 escudos no bolso. E ... havia festa.

 A segunda razão porque fiz uma boa escolha foi  ementa. Paguei 7€, mas tive a possibilidade de provar todos os pratos ( e eram bastantes). Acompanhei tudo com salada de alface com porretas (folhas aéreas da cebola), mas havia batatas cozidas, a murro e arroz. Estava tudo excelente e não me coibi de dar os parabéns à D. Ermelinda Pinto pela confeção de tão fausto e e apetitoso almoço.
Como sobremesa havia laranjas e peras, tudo de produção local, arroz doce e, novidade para mim, milhos doces! Gostei desta iguaria tradicional.
É à mesa que se cultiva a amizade e a refeição serviu para eu me sentir integrado e à vontade com as pessoas de Adeganha. Conheci o Sr. Presidente da Junta, o já "amigo virtual" Bruno Moreira, revi os amigos Leonel Brito e Arnaldo Silva, da vila.
 Depois de uma tão substancial refeição a solução foi queimar algumas calorias nuns passos de dança. A acordeonista Cristiana lançou a música a jeito e os mais animados não se fizeram rogados. O recinto era espaçoso e os dançarinos poucos (embora bons). Também se cantou o fado, por jovens e menos jovens. Se alguma desafinação houve, a culpa foi de certeza do acompanhamento instrumental e não da sangria, que estava ali mesmo ao lado.

Continua: Segada e malhada tradicionais em Adeganha (2ªParte)

2 comentários:

Arnaldo Silva disse...

Caro amigo Aníbal,

A reportagem é muito bela. O texto está muito bem justificado e as fotografias são de grande qualidade. Estás de parabéns.

Arnaldo

Anónimo disse...

Olá!

Aproveito para lhe deixar um bem haja pelo trabalho de registo que fez no evento "adeganha ALDEIA VIVA". Foi muito bem documentado, e fico-lhe grato pela descrição que fez do evento.

A ideia de partilha continua pelos blogs e facebooks, e isso é o mais significativo.

O interior está vivo! E nós que agora cá vivemos esperamos continuar a contribuir para essa causa.

Um bem haja,
André Tereso
Grupo de Amigos da Adeganha