10 agosto, 2009

Cão de fora


“Quando olhamos para alguém, logo julgamos sem conhecer.
Por vezes julgamos mal somente pelo parecer.
Com o tempo conhecendo a pessoa, vemos que nos tínhamos enganado a seu respeito, por isso mais vale não julgar, mas aprender a conhecer e cultivar a amizade.
Curiosa terra esta de gente fina e sabida, quando cheguei a Moncorvo, já lá vão 13 anos, todos me olhavam com curiosidade e até agressividade.
Com o tempo foi sendo conhecido e adoptado, até que um dia um já falecido Sr. me chamou cão de fora.
Tais palavras ainda hoje me ecoam na cabeça, como que me lembrando que não pertenço aqui.
O certo é, com o tempo já não sei de onde sou.
Hoje de uma Moncorvense tenho um filho que se afirma Moncorvense também, ficando cada vez mais as minhas raízes enraizadas nesta terra.
Serei cão de fora ou já da terra?”

Solitário

(Enviado por email)
Fotografia: Cachorro de olhar meigo, em Peredo dos Castelhanos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Não é cão de fora nada, homem! É pessoa da terra, que a gente decente da terra o considera assim.Não é da terra só quem nela nasce,mas quem a ama, como você.
Obrigado, conterrâneo, por já ter cá deixado raízes.
Esse cão da terra(o da fotografia), porque é cão e, portanto ,sensível, tê-lo-ia recebido melhor que o outro ( o tal cão de dentro).

Camilo alcoforado disse...

Gostei duplamente deste comentário, gostei do texto e da foto. Caro solitário, mudei-me do «ventre mater» da Açoreira com 5 anos apenas, para Moncorvo, e agora perto dos 50, ainda não atingi o almejado título de «cão da Bila»! Bom entre ser da Bila ou de fora prefiro o segundo, até que para além do espanto que causou em mim a luz eléctrica que ainda não tinha chegado á minha aldeia tudo o resto tem sido mesquinhez agressividade e invejas logo o meu carinho vai todo para a Açoreira onde quero ser enterrado. Como vês, caro Solitário apesar das raízes (filhos)serás sempre «cão de fora» e ainda bem que os da bila, aonde vão por essas aldeias fora são sempre olhados de soslaio e desconfiança, sempre á cata dum copinho da pipa ou so salpicão da talha que o aldeão «cão de fora» nunca renega. Bota lá!

A.B. C de Mundo disse...

Cães de fora não existem, ao contrário a nossa terra por vezes não é a que nos viu nascer nem aquela que nos viu partir, mas sim é e sempre será aquela que nos recebeu para trabalhar e viver socialmente cómodo e rentabilizar a vida.
Inveja ou criticos da sabedoria não existem, apenas as autobiografias de alguns se confudem com a escuridão das palavras que divulgam.

A.B.C de Mundo - Jornalista

Wanda Wenceslau disse...

Olá!
Aqui onde nasci e moro, TODOS são cães de fora.
É quase impossível encontrar um paulista com mais de duas gerações.
Veja meu blog, comentários sobre a minha cidade, São Paulo.

http://esperandoprimavera.blogspot.com/

Abraço
Wanda
Sãi Paulo, 13 de agosto de 2009

PEREYRA disse...

Porque gostei da foto, li o texto! Mas a tua pergunta coloca-me num falso dilema!
Se eu fosse o cão que se encontra à porta da casa, era um cão meigo, teria gente disposta a acariciar o meu pelo sedoso e alguém, de bom coração, me iria adoptar! Seria um cão afortunado!
Se estás ligado a Moncorvo por laços afectivos e de sangue, não há dúvida que te consideras cão da casa mas o fantasma do "cão danado" não te larga! Esquece isso e lembra-te do ditado «Os cães ladram e a caravana passa»!
Tal como tu, não moro onde nasci e até já fui emigrante em Paris e em São Paulo. Por isso, sem renegar as origens, e porque cães ranhosos há-os em todas as terras, incluindo nas nossas, não me considero cão desenraízado mas cidadão do mundo.